Introdução
O hálux rígidus é uma patologia caracterizada, como o próprio nome diz, pela rigidez do primeiro dedo (dedão). Na realidade, o que ocorre na maioria das vezes é um processo de degeneração ou artrose na articulação do hálux, fazendo com que o paciente sinta dor para a movimentação do dedo. Primeiramente, a dor é percebida antes da rigidez e muitas vezes o paciente se apresenta com queixas relacionadas mais à mudança do andar do que pelo dedo propriamente dito.
Interessantemente, é comum que as queixas dos pacientes não estejam relacionadas com a gravidade do hálux rígidus. Ou seja, pacientes com degeneração avançada não necessariamente são os que mais sofrem com a patologia.
Causas do Hálux Rígidus
As causas do Hálux Rigidus podem ser divididas entre traumáticas e idiopáticas:
Traumáticas
Fratura do 1º metatarso ou da falange proximal do hálux com extensão articular, entorse da articulação, imobilização prolongada após um trauma qualquer, levando a rigidez da articulação, lesão da cartilagem que reveste as superfícies articulares assim como microtraumas de repetição como ocorre em corredores e bailarinas.
Idiopáticas
Algum fator predisponente (como genética) que possa causar estresse aumentado e subsequente degeneração articular, por exemplo 1º metatarso elevado ou longo demais, pé cavo, encurtamento excessivo da musculatura das panturrilhas, entre outros.
Foto demonstrando a lesão osteocondral da cartilagem da cabeça do 1º metatarso, em um paciente jovem praticante de futebol.
Evolução do Hálux Rígidus
Nos estágios iniciais, o paciente normalmente se queixa de dor na região dorsal (em cima) da articulação, muitas vezes relacionada ao movimento e ao uso de calçados com o solado fino ou flexível demais, porque este tipo de solado aumenta o arco de movimentação do dedo. A dor é em caráter de peso ou queimação, e ocorre ao final do dia ou após atividades mais vigorosas como correr, saltar, ficar de pé muito tempo trabalhando ou usando salto alto por período prolongado.
Com o passar do tempo, o paciente vai notando que a dor passa a ser mais constante, passando a ficar presente já pela manhã ou aos menores esforços. É comum ser notada a perda de movimento, embora essa não seja a queixa clássica que leva o paciente a procurar o especialista.
Durante a progressão da doença, a perda de movimento passa a ser notada de forma mais clara e as dores passam a ocorrer também na região plantar (embaixo) da articulação. No exame físico, o paciente sente dor para os menores movimentos de flexo-extensão do dedo, o que não ocorre nos estágios mais leves, estágios estes em que a dor ao movimento ocorre apenas ao extremo da amplitude de flexão (movimento para baixo) ou extensão (movimento para cima) do dedo.
Estágios do Hálux Rígidus
A doença Hálux Rigidus é então classificada nos seguintes estágios:
Grau 0: sem dor ao movimento, 10-20% de perda de amplitude de movimento quando comparado com o lado normal.
Grau 1: dor ocasional, ocorrendo apenas nos extremos do movimento. Vinte a 50% de perda do movimento, osteófito dorsal na radiografia de lado.
Grau 2: dor moderada, ocorrendo já antes dos extremos de flexão e extensão do dedo. Perda de 50-70% do movimento, com alteração no formato da cabeça do metatarso (achatamento, estreitamento do espaço articular).
Grau 3: dor constante, porém ainda sem dor para o movimento suave do dedo, rigidez significativa, podendo ocorrer perda de até 100% do movimento. No raio-x, ocorre obliteração do espaço articular, com contato entre as superfícies articulares dos ossos metatarso e falange.
Grau 4: como o grau 3, porém com dor em todo o movimento, inclusive às mínimas amplitudes de flexão e extensão.
Osteófito dorsal na cabeça do metatarso (bico de papagaio). Com o progredir da doença, esta e outras formações ósseas aumentam.
Osteófito bloqueando ainda mais o movimento e levando à dor por irritação dos tecidos adjacentes (nervos e tendões).
Já nessas imagens acima, o que vemos é o estreitamento do espaço articular do hálux. À esquerda, vemos um grau 2 (com evolução para o 3) e à direita, um grau 4 com obliteração total do espaço articular.
Tratamento do Hálux Rígidus
O tratamento desta condição é baseado no grau de evolução da doença.
Sobretudo nos quadros iniciais, a modificação de calçados com a utilização de solado mais rígido promove a proteção do hálux e a melhora da dor. Palmilhas que sejam menos flexíveis na região embaixo do primeiro raio promovem o mesmo efeito, e podem ser customizadas para cada paciente.
Se há alteração na qualidade da cartilagem do hálux, outra possibilidade é a utilização de medicações específicas para artrose, como infiltrações com Ácido Hialurônico ou medicamentos orais chamado condro-protetores, ou protetores da cartilagem.
A fisioterapia com o intuito de melhorar o alongamento da cadeia posterior e fortalecer a musculatura intrínseca do pé deve ser feita sempre e em paralelo aos outros tratamentos.
Cirurgia para o Hálux Rígidus
A cirurgia está indicada nos casos em que não há melhora com os tratamentos citados ou quando o paciente se apresenta já em estágio avançado (graus 3 e 4), com prejuízo na qualidade de vida.
As opções cirúrgicas são:
- Artroscopia da articulação do hálux: tem a intenção de limpar a articulação das proeminências ósseas, estimulando a vitalidade da cartilagem quando preciso.
- Descompressão da articulação: através do encurtamento do osso metatarso, o espaço articular é descomprimido, diminuindo o atrito entre os ossos e assim a dor.
- Substituição da cartilagem lesionada: através da utilização de um implante de silicone ou plug, a articulação é aberta para implantação de uma prótese, interpondo-se entre as faces articulares do metatarso e da falange.
- Artrodese ou fusão do hálux: esta técnica esta indicada para casos bem avançados, com perda substancial da movimentação. Apresenta excelentes resultados para a cura da dor, às custas da fusão articular.
Artroscopia do hálux, mostrando a lesão da cartilagem e os portais de acesso. (Hunt KJ, Foot Ankle Int. 2015).
Cirurgia de descompressão, com encurtamento do osso metatarso, para abertura do espaço articular, com melhora da dor e do movimento. Note o aumento/abertura no espaço articular.
Artroplastia de interposição: implante de silicone colocado no metatarso, interpondo-se entre os ossos.
Cirurgia de artrodese, em que é feita a fusão entre o metatarso e a falange do hálux.
Assim, o mais importante é o paciente entender sua condição e a evolução natural desta patologia para que o tratamento seja feito de forma precoce e mais eficiente a longo prazo.