A Braquimetatarsia (em inglês Brachymetatarsia) é uma alteração rara, as vezes dolorosa, no comprimento dos dedos do pé. Ao contrário do que os pacientes normalmente pensam não é o dedo que sofre encurtamento mas sim o osso metatarso, o que causa a aparência do dedo mais curto.
Como definição, podemos dizer que a Braquimetatarsia é o encurtamento de 5mm ou mais em um metatarso relação aos vizinhos, sendo de longe o 4º metatarso o mais acometido (72% das vezes).
As fotos abaixo mostram a Braquimetatarsia, ou seja, o encurtamento do 4º metatarso, segundo a fórmula metatarsal (linha curva em branco), antes e após a cirurgia.
Pé com Braquimetatarsia antes da Cirurgia.
Pé corrigido após a cirurgia da Braquimetatarsia.
Incidência
A incidência da Braquimetatarsia é de 1 para cada 4000 pessoas aproximadamente (0,02% a 0,05%), e ocorre ao redor de 25 vezes mais frequentemente em mulheres do que em homens. Em 70% dos casos, é bilateral (ocorre nos 2 pés). Normalmente, a Braquimetatarsia é congênita, ou seja, desde o nascimento, porém, torna-se aparente somente ao redor dos 4 anos de vida. Acredita-se que a deformidade seja causada por um fechamento prematuro na placa epifisária de crescimento ósseo no metatarso (região do osso responsável pelo crescimento).
Neste caso abaixo, a paciente apresentava a braquimetatarsia apenas do lado esquerdo (a direita da imagem):
Outras causas menos frequentes são: fraturas que acometem a região do crescimento osso, infecção do metatarso (osteomielite) ou síndromes (como a Síndrome de Down, por exemplo).
Abaixo lado esquerdo corrigido após a técnica de enxerto ósseo.
Consequências da Braquimetatarsia
Embora as maiores queixas que vemos no consultório sejam a estética e a dificuldade em mostrar os pés, o paciente com Braquimetatarsia pode apresentar outras queixas como calosidades nos dedos, dificuldade em usar calçados, dor e desvio dos outros dedos. É comum vermos os outros dedos se desviarem para preencher o espaço do dedo mais curto. Os dedos laterais tendem a ser desviar para dentro e os dedos mediais, tendem a se desviar para fora (por ex.: o dedão tende a ser desviar, ocasionando o joanete associado).
Repare na imagem abaixo como os dedos tendem a se desviar para preencher o espaço vazio do(s) dedo(s) mais curto(s)
Como é feito o tratamento cirúrgico da Braquimetatarsia?
O tratamento cirúrgico da Braquimetatarsia é realizado através do alongamento ósseo do metatarso, que pode ser feito através da utilização de enxerto ósseo ou alongamento fraccionado com fixador externo. É importante avaliar as outras deformidades citadas. É aconselhável que se corrija todos os dedos, que estejam desalinhados, para que se equilibre todo o antepé.
Veja abaixo fotos do intra-operatório das duas técnicas. À esquerda, a utilização de enxerto ósseo. À direita, do distrator ósseo
Quando utilizamos o enxerto ósseo, o alongamento é instantâneo. Ou seja, alongamos o osso na medida exata do enxerto ósseo, de uma só vez. Já quando utilizamos o fixador externo, este alongamento é fraccionado ao longo dos dias, através da manipulação fina do distrator ósseo. Em linhas gerais, este alongamento é ao redor de 1mm/dia.
Como decidir a técnica?
Em primeiro lugar, a técnica escolhida para a correção de Braquimetatarsia deve ser aquela com que o cirurgião se sente mais confortável e mais familiarizado. Em segundo lugar, esta escolha deve ser adaptada a cada paciente, ao seu estilo de vida, e principalmente às suas expectativas.
Genericamente, temos 2 principais técnicas de correção. A de enxerto ósseo e a de uso do distrator ósseo.
Técnica do Enxerto Ósseo
- 13-15mm de crescimento ósseo em média;
- 8-9 semanas de tempo de cicatrização em média;
- Menos chances de complicações (infecção, fratura do osso, desvios angulares durante o crescimento);
- Limite de crescimento: 25% do comprimento do osso;
- Não precisa de outra cirurgia;
- Alongamento é instantâneo;
- Utiliza enxerto ósseo.
Técnica do Distrator Ósseo
- 17-20mm de crescimento ósseo;
- 12-16 semanas de tempo de cicatrização em média;
- Maior chance de complicações;
- Limite de crescimento ósseo: 40% do osso;
- É necessária outra cirurgia para retirar o fixador;
- Alongamento é fraccionado mm/dia;
- Não utiliza enxerto ósseo.
Braquimetatarsia: foto do intra-operatório, imediatamente após o alongamento ósseo com o enxerto.
Braquimetatarsia: foto de uma paciente, em sua fase final, com o uso do Fixador Externo.
Importante
Conforme estudos recentes, a técnica de alongamento ósseo fraccionado é capaz de atingir maiores medidas no osso metatarsal encurtado. Porém, está associada a maiores complicações como infecção nos trajetos dos pinos externos do fixador e diminuição na mobilidade da articulação metatarso-falângica (aquela entre o osso metatarso e o dedo).
Com a técnica de alongamento ósseo instantâneo, a recomendação é que não se alongue o osso mais do que 15mm ou mais do que 25% de seu comprimento, a fim de que não haja comprometimento neurovascular do dedo. Em outras palavras, mais do que este alongamento citado, o dedo pode entrar em isquemia (falta de sangue = falta de oxigênio).
Nesse sentido, veja abaixo imagem esquemática o alongamento ósseo com enxerto ósseo é fixado como um pino (Fio de Kirchner). O alongamento dos tendões também deve ser feito, para auxiliar no alinhamento do dedo.
Quanto ao enxerto ósseo utilizado nesta técnica, ele pode ser do próprio paciente (autoenxerto), e neste casos retiramos do osso ilíaco da bacia, ou pode ser de outra pessoa (aloenxerto). Neste caso, é como se fosse um transplante (osso de cadáver estocado em banco ósseo específico).
Abaixo, confecção do enxerto, com 15mm. Neste caso foi utilizado enxerto de cadáver. Ao lado, após a cicatrização óssea (foto de artigo científico).
Recentemente, novas técnicas minimamente invasivas tem se desenvolvido. Embora seja difícil dizer que é uma técnica melhor, uma vez que está ainda em desenvolvimento, não deixa de ser uma opção.
Através de pequenos cortes na pele (2-3mm) e no osso, é possível aplicar o mesmo fixador externo para a distração óssea.
Veja abaixo:
Braquimetatarsia – foto do intraoperatório, com a técnica minimamente invasiva para o tratamento da Braquimetatarsia.
Independente da técnica cirúrgica, o paciente deve estar ciente dos riscos e benefícios, como em qualquer outro procedimento cirúrgico. A decisão deverá ser tomada em conjunto, visando ao melhor resultado para cada paciente.