Introdução

O pé plano, também conhecido como pé chato, é uma condição bem reconhecida entre os profissionais de saúde que tratam problemas de pé e tornozelo. Caracteriza-se pelo valgismo do retropé (figura 1) e redução da altura do arco medial (figura 2).

Valgismo do retropé | Dr. Rodrigo Macedo

Figura 1: Imagem posterior das pernas do paciente demonstrando o valgismo do retropé, que está relacionado a essa posição mais lateral do calcanhar.

Ausência do arco longitudinal medial | Dr. Rodrigo Macedo

Figura 2: Imagem medial do pé de uma criança de 6 anos, demonstrando a ausência do arco longitudinal medial.


O pé plano pode ser classificado em: RÍGIDO X FLEXÍVEL.

Pés Rígidos

São raros, acometendo menos de 1% da população, costumam ser sintomáticos e normalmente estão relacionados a alguma patologia, como por exemplo:

Coalizão Tarsal, Pé Serpentiforme, Pé Talo Vertical Congênito | Dr. Rodrigo Macedo

Figura 3: Imagem de radiografia representando da esquerda para direita: Coalizão Tarsal (Barra Calcaneonavicular), um Pé Serpentiforme e por último um Pé Talo Vertical Congênito.

Pés Flexiveis

O pé plano flexível é muito mais comum, e pode acometer até 23% da população e na opinião da maioria dos autores e especialistas “Na ausência de sintomas, o pé plano consiste apenas em uma variação anatômica do pé ao longo da vida e não deve ser encarado como uma doença”. Eles argumentam que um pé que apresenta um arco longitudinal medial reduzido ou ausente não implica necessariamente uma condição patológica.

No dia a dia podemos perceber que muitos indivíduos que apresentam pé plano têm articulações congruentes e função normal dos membros inferiores.  No entanto, muitos consideram um pé plano flexível um desvio da “norma” e sugerem que pode predispor os indivíduos a maior estresse em uma variedade de tecidos, resultando em um limiar fisiológico e biomecânico mais baixo dos tecidos dos membros inferiores.

Do ponto de vista biomecânico, um pé plano flexível não consegue formar uma estrutura estável para realizar o movimento de propulsão, última fase da marcha na qual o pé empurra o solo para realizar o desprendimento. Qual a aplicação prática disso? Um pé extremamente flexível não consegue alcançar a estabilidade dinâmica que resista aos efeitos danosos das forças de reação do solo, e a longo prazo, essa mecânica comprometida pode levar a alterações em toda estrutura musculo esquelética: ligamentos, tendões, músculos e articulações podem ser afetados.

Quais patologias podem estar relacionadas à sobrecarga do pé plano?

Observação: Apesar de muitos trabalhos sugerirem essas relações, a natureza exata dessas associações ainda não é clara.

Qua a causa do Pé Plano Flexível?

A causa exata do pé plano flexível ainda é incerta, mas acredita-se numa provável, natureza multifatorial:

E o tratamento para Pé Plano?

Apesar de casos extremos e sintomáticos, não responsivos possam ser tratados cirurgicamente, a abordagem mais comum para o tratamento dessa condição é realizada de maneira conservadora ou simplesmente através do acompanhamento e observação da evolução.

Existem muitos tipos de tratamentos não cirúrgicos para a dor e incapacidade causadas por pés chatos, são eles:

O meu filho precisa de palmilhas?

Alguns trabalhos demonstram que em pés flexíveis sintomáticos, uma órtese pode fornecer um suporte ao pé, melhorar a mecânica e reduzir os sintomas. Embora o real mecanismo de ação das órteses ainda continue a ser debatido, alguns autores sugerem que esses dispositivos influenciem a eversão da articulação subtalar, aumentando a estabilidade.

No entanto, os estudos mostram pequenas e geralmente não significativas alterações na eversão do retropé. Outros artigos avaliam a pressão plantar para entender a relação entre o pé plano e a função, posição e dinâmica do pé.

Os projetos das palmilhas podem variar de um dispositivo simples e pré fabricado à um dispositivo totalmente personalizado produzido a partir de um molde gessado ou tecnologias de impressão 3D.

Pé Plano Infantil | Dr. Rodrigo Macedo

Figura 4: Exemplo de Palmilha Com suporte para o arco medial.

Estudos recentes, sugerem que as palmilhas podem sim ser eficazes na redução da dor após um período de 3 meses de uso. Porém, esses mesmos estudos concluem que não há evidências de ensaios clínicos randomizados sobre a eficácia desses dispositivos para os pacientes assintomáticos. Ou seja: a palmilha pode ajudar na dor, mas não irá corrigir o formato do pé!

E quanto a escolha das órteses, a seleção do dispositivo ideal permanece obscura e faltam implicações a longo prazo, no entanto o uso dos dispositivos confeccionados de maneira individualizada parece trazer mais conforto quando comparados com as órteses pré fabricadas.

Em resumo, p pé chato é uma condição comum, na qual o tratamento conservador costuma ser eficaz na maioria dos casos, principalmente entre os indivíduos portadores de pés flexíveis. As palmilhas podem fazer parte do arsenal médico para tratamento conservador, no entanto não devem ser prescritas de rotina e a avaliação médica para definição do seu uso ou não é imprescindível.

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